segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Ter um gato significa...

  Ter um gato, significa que todo dia você terá uma dose de fofura;
  Ter um gato, significa ficar com marcas nos braços, por conta de arranhados causados por eles;
  Ter um gato, significa que você nunca ficará triste, pois por mais que esteja, gatos tem o dom de alegrar seu dia;
  Ter um gato, significa ficar preocupado quando saem pra "dar uma volta" e demoram;
  Ter um gato, significa que você deve abandonar a ideia de ter um sofá novo;
  Ter um gato, significa que, na época de Natal, deixar a árvore montada é um desafio;
  Ter um gato, significa aprender a amar, mesmo com brigas (afinal, quem nunca deu bronca nos bichanos?);
  Ter um gato, significa passar por uma espécie de maternidade/paternidade, afinal, tem que se preocupar se ele está alimentado, se a caixinha de areia está em boas condições, levar ao veterinário;
  Ter um gato, significa que se você se sentar e ele deitar em seu colo, estará fadado a ficar nessa mesma posição perpetuamente, pois gatos dormindo são tão fofinhos que mal temos coragem de acordá-los;
  Ter um gato, significa tudo e um pouco mais, fica quase impossível descrever todo o sentimento.

  Ter um gato, é ter a certeza do que é o amor.

sábado, 7 de janeiro de 2017

"Não tinha nenhum santo"

  Primeira semana de 2017 já começou conturbada. Aliás, no primeiro dia do novo ano já houve a ocorrência de ter acontecido ao menos 60 mortes em duas penitenciárias de Manaus, Complexo Penitenciário Anísio Jobim e Unidade Prisional de Puraquequara. Segundo maior número de mortes registradas em presídios, desde o massacre do Carandiru, em 1992, onde as tropas da polícia mataram cerca de 111 detentos durante uma rebelião.
  O que ainda está causando intriga é o porquê dessas mortes estarem ocorrendo. Muitos apostam na ideia de que é uma guerra entre facções, mas de acordo com o Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes "isso é um erro que não podemos cometer, achar que, de uma forma simplista, esse massacre e essas rebeliões são simplesmente guerra entre facções. Aqui, dos 56 mortos, mais da metade não tinha ligação com nenhuma facção. Isso é algo que não vem sendo divulgado, exatamente porque sempre é mais fácil uma explicação simplista". De um jeito ou de outro ele tem razão. Ainda falta muita investigação.

  Várias pessoas se puseram a falar sobre o assunto e a prestar solidariedade à família dos que foram mortos, porém, o Governador do estado do Amazonas, José Melo, já foi um pouco além ao se pronunciar, logo após o comentário descrito acima feito pelo Ministro da Justiça, "não posso fazer comentário sobre o que o ministro falou. Só sei dizer que não tinha nenhum santo. Eram estupradores, eram matadores que estavam lá dentro do sistema penitenciário [...]".

  Calma, as notícias não param por aí. Na tarde dessa sexta feira (6), houve mais 33 mortes registradas em penitenciárias devido a rebeliões, dessa vez, 31 em Roraima, na maior penitenciária do estado, Agrícola de Monte Cristo, e outras duas registradas em Paraíba, no Presídio Romero Nóbrega. O que anda se especulando é de que desta vez as mortes ocorreram por conta da reação da facção do PCC (Primeiro Comando da Capital) ao ocorrido em Manaus, pois em Manaus, a maioria dos detentos eram ligados à facção Família do Norte (FDN), enquanto o PCC era minoria, e em Roraima, seria o contrário. Porém o Ministro da Justiça discorda, dizendo que "nesse presídio houve a separação de presos. Todos eram da mesma facção, todos eram ligados ao PCC [...]. Seria um acerto de contas interno [...]". E ainda em outra entrevista, disse que a situação "não saiu do controle". Será mesmo? Pois a informação que temos é de que a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas sabia há algum tempo que os detentos possuíam armas e também tinham ciência do plano de fuga que aconteceria entre o natal e o ano novo. Sobre essa informação, Alexandre de Moraes se pronuncia "o governo estadual disse que tomou todas as providências para evitar a fuga [...]". "[...] o que é possível afirmar é que uma série de erros ocorreu. Se não, não teria ocorrido o que aconteceu".

  Após o ocorrido, em uma entrevista concedida à CBN, o Governador José Melo comenta sobre a construção de 3 novos presídios. "[...] daqui um ano e meio nós teremos a nossa penitenciária agrícola funcionando e ai nós vamos separar o joio do trigo dentro das penitenciárias", afirmou. Durante a rebelião que ocorreu em Manaus, 184 fugiram, porém, 56 deles foram recapturados, até a noite dessa terça feira (3).

  Infelizmente somos o país que ocupa o 4° lugar no ranking de maior população carcerária, e devido a problemas (administração de dinheiro), nossos presídios sofrem de superlotação, falta de higiene e segurança, pois os detentos ainda tem acesso à celulares, armas, internet, drogas, etc.

  Faço parte daquele grupo de pessoas que acreditam que as pessoas merecem uma segunda chance e que apostam na educação como ajuda, como um meio de solução, pois se você pesquisar, verá que a maior parte dos presos em nosso país possui apenas o ensino fundamental, as vezes nem completo, e são jovens. Pessoas que ainda podemos ajudar, e não jogar numa cela lotada junto com pessoas de mais experiência, das quais temos certeza que ali, vira uma escola do crime.

  Diante de tantas mortes, me solidarizo com a família dos que morreram no massacre. 93 mortes em uma semana, na primeira semana de 2017, das quais todos desejavam que fosse um ano cheio de paz, amor, felicidade. Para uns o ano já virou um pesadelo, para outros, apenas obtemos um trailer do que o ano nos reserva.

Mas e ai 2017, o que vem pela frente?
 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Um pouco a cada dia

  As crianças fazem barulho lá fora. Uma algazarra de meninos que entra pela janela, trazida pela brisa da tarde, e faz da cortina, fina e branca, uma bailarina que se desenha no mormaço da sala. O sono de depois do almoço, encantado pela dança suave da cortina, faz o barulho dos meninos que brincam lá fora, cada vez mais distante. Menino, que chega suado da escola, bochechas vermelhas, olhos brilhantes e histórias que querem sair da boca, ganhar vida, histórias de menino.
  Crianças estão por toda parte. Na minha casa e provavelmente na sua, na janela dos carros, nas praças, sob as pontes, nos barracos, nos jardins, na escola, no trabalho. Crianças com os mais diversos destinos nascem todos os dias, todas as horas. Crianças ricas vão à escola, à Disney, brincam com jogos eletrônicos, imitam seus ídolos da tevê, comem, bebem, dormem protegidos das intempéries da vida. Crianças pobres vão ao trabalho, pedem uma moeda, tentam vender um chiclete no semáforo fechado, praticam delitos, cheiram cola, esmolam amor, entorpecem o futuro que não existe. Sempre foi mais ou menos assim. A escola nunca foi alternativa para os filhos de pobres, afinal eles deveriam ser úteis na lavoura, produtivos desde pequenos, receita e não despesa, uma ajuda no apertado orçamento da família, quando não a própria fonte de subsistência. Educação é coisa de rico.
  Uma angústia nos ronda, na busca  de uma nova ética para a infância. Que adultos estamos formando para o Brasil? Que destino daremos para a voz rouca que bate na janela do carro? São tantas e tantas vezes que nem ligamos mais para a tristeza da cena. Culpa da pobreza, da exclusão social, do governo, de todo mundo, menos sua e menos minha.
  Tremendo abismo se dilata entre entre nós e eles. Nossas crianças navegam na internet. As deles, quando muito, aprendem a desenhar o nome com as mãos calejadas da última colheita. Crianças estão à mercê da desagregação familiar, estimulada pelas dificuldades dos adultos malformados diante das agruras da cidade grande, vítimas fáceis da globalização, da sociedade de consumo, da exploração e da injusta distribuição de renda. Pode-se  sentir ainda um vinco escravista nas crianças ricas, que ordenam e o adulto obedece. Uma deformação da sociedade brasileira, mestiça e arrogante nos seus extratos, que se observa nos mínimos gestos de todos nós. Está na cultura, escrito na história de senhores e escravos. Mas nem por isso a solução é aceitar a aberração como destino, nem se conformar com o trabalho infantil, nem justificar criança fora da escola. É preciso recolocar a vida nos eixos, cuidar do futuro por meio dá formação de cidadãos. Resgatar a dignidade e assegurar que a criança brinque, se alimente e estude na escola formal, não na escola da rua, que desenha um futuro que não queremos, que hoje já nos assusta na violência urbana com estatísticas de guerra civil, que nos prende em casa e banaliza a vida e morte.
  As crianças brincam lá fora. A noite começa a cair. Hora de voltar para a casa, tomar banho, terminar o dever complicado pela matemática. Hora de jantar, da conversa amiga com o pai, a mãe, o irmão e quem mais estiver. Hora das histórias de todos, no relato do dia, com suas alegrias, tristezas, vitórias e aprendizado. Hora do sono tranquilo, campo fértil do sonho que se realiza acordado, um pouco a cada dia.


Autor: Luiz Márcio Ribeiro Caldas Junior
Livro: Você tem medo do quê?
Págs: 93 a 95