sábado, 7 de dezembro de 2013

A Última Aula Do Jardim De Infância

 Uma professora entra na escola suando,não sabe bem o que está acontecendo. Foi arranhada minutos atrás por um ensandecido e teve que empurrar o sujeito. Agora está passando mal.
 Depois que perde o primeiro ônibus é difícil conseguir outro. Ela entra no jardim de infância,mas está passando mal,já não consegue definir muito bem o caminho. Será a menopausa?
 Bebeu água. Era um calor tremendo,talvez passasse. Não quis passar na sala dos professores,estava atrasada e era melhor não passar pela vergonha de confrontar com a diretora,já era a terceira vez que tinha chegado atrasada só nesta semana e para a sorte a máquina de bater ponto estava com defeito. O crime perfeito.

 Chegou na sala,as crianças alvoroçadas já de manhã. Segunda série é fogo! Mas foi só entrar na porta da sala que a criançada silenciou. 

 "Bom dia professora!"

 Ela acenou. Já não conseguia mais responder. Pegou o giz com a mão suada. Rabiscou no quadro e o suor com o giz molhado tornou a letra um tanto feia,talvez fosse a coordenação motora que já estava indo para as cucuias. Pediu às crianças  uma redação sobre onde iriam passar suas férias.
 A criançada começou,deu sorte de pegar uma turma onde quase todos gostavam de redação,menos o Pedro,que odiava,entregava uma página com uma frase só,sempre algo do tipo "minha mãe é bonita",sem muita complexibilidade. Já Anita inventava histórias formosas,adorava falar sobre coelhinhos e o Amilton,garoto esperto surpreendia a professora com a capacidade de inventar histórias bizarras e às vezes até cruéis.

 A professora dava sempre 20 minutos para terminar a redação. Fez como sempre,sentou na cadeira,abriu a lista de chamada e começou a verificar os nomes. O suor da testa despencava aos montes. O sangue parecia ser arrastado dentro das veias,a cada pulso uma contração em todo o corpo. Os olhos não queriam mais ficar abertos e um deles apontava para o lado errado. Algo de errado estava acontecendo a doce professora,ela não era mais dona dos próprios movimentos.
 A criançada redigiu e a primeira a terminar foi Luiza,a mais bonitinha da classe,ela dizia que seria vendedora quando fosse grande. Uma vez a Luiza trouxe brigadeiros para escola e todo mundo comprou. Ela adorou.
 A Luiza entregou uma redação bem bonita pra professora. "Pronto. Acabei"

 Ela ficou esperando a professora falar "Agora fique quietinha e espera seus coleguinhas terminarem",mas a professora não disse nada. Era só um troço suado,sentado na cadeira com a coluna envergada e a cabeça pendurada. A Luiza,sempre uma boa menina,fez um carinho na cabeça da professora,tinha pena de gente cansada.
 A boca da professora abriu e um resquício de bílis vazou sobre o colo sujando a saia nova. Arreganhou os dentes e cravou uma mordida no bracinho infantil de Luiza,devorou partes do ombro da menininha. Ela não resistiu por muito tempo.
 Seria por demais degradante descrever a carnificina que se passou na sala 2B da escola de ensino primário da Asa Norte. Não vale a pena conhecer tal história.

 Algumas crianças tentaram escapar,mas as grades eram fechadas e aconteceu que aos poucos todos foram sendo devoradas. A diretora se manteve escondida enquanto ouvia os gritos das crianças lá no pátio principal,onde geralmente eram risinhos do recreio que a incomodavam em sua sala,mas hoje era medonho. Não adiantava apertar o sinal porque as crianças,mortas vivas,não retornariam educadamente às suas classes. 
 Assim que ouve uma brecha a diretora escapou pela porta deixando o portão principal,pegou seu carro e foi embora. Alguns quilômetros adiante seu carro se acidentou com um corsa desgovernado. 

 Quando as crianças zumbificadas saíram pela porta principal,não houve quem não concordasse que o exército infantil de mortos vivos fora a coisa mais triste e repugnante que já se viu nessa vida.

Por Gustavo Serrate.

GOOD NIGHT SEUS LINDJOS!

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